sábado, junho 11, 2016

Meio Socioeconómico e Sucesso Educativo

Pesquisas conduzidas durante a década de 60 do século passado, como a de Coleman (1966) ou ainda dos sociólogos franceses Bourdieu e Passeron, revelaram que os alunos oriundos de meios desfavorecidos corriam maior risco de enfrentar dificuldades ao longo do seu percurso escolar. Estudos posteriores confirmaram a existência de uma relação entre o desempenho escolar dos alunos e a sua proveniência socioeconómica. 


Como resposta a escola tentou implementar medidas que garantissem mais justiça em matéria de educação. Crahay (2000) identifica dois princípios através dos quais evoluiram os sistemas educacionais:

1 - igualdade de oportunidades
2 - igualdade de tratamento

Quanto à igualdade de oportunidades a escola guia-se por um zelo de justiça, oferecendo igualdade de oportunidades a todos os alunos. Assim, a origem social, o sexo, a nacionalidade, a origem étnica e o ambiente socioeconómico do indivíduo não devem, pelo menos em princípio, constituir obstáculos à sua escolarização. Significa isto que cada aluno pode receber a educação que ele merece, de acordo com as suas capacidades. Por conseguinte, mesmo que venham de bairros desfavorecidos, os alunos que possuam as capacidades necessárias podem entrar nas melhores escolas e nas melhores áreas. No entanto este princípio não conseguiu tornar a escola mais justa, contribuindo, ao invés, para acentuar as desigualdades sociais. Foi por isso que muitos sistemas de ensino optaram mais tarde pelo princípio da igualdade de tratamento.
Este pressupõe que todos os alunos devem receber um ensino com a mesma qualidade, numa escola única, sem diferenciação de percursos. Oferece-se, então, uma formação equivalente para todos, independentemente das diferenças individuais. Todavia, a despeito da sua nobreza moral, este princípio contribuiu, apesar de tudo, para reproduzir e acentuar a estratificação social. Ao ignorar as desigualdades presentes no ponto de partida de cada aluno, o meio escolar só conseguiu, em definitivo, legitimar as capacidades desiguais construídas pelo meio social de cada um.
Se a escola pretende ser justa, equitativa e eficaz para todos os alunos que a frequentam, ele deve instaurar um outro princípio - o da igualdade de conhecimentos. Para tal o ensino deveria ser organizado de acordo com a pedagogia do domínio (Bloom, 1984). Só assim será possível reduzir as diferenças do ponto de partida de cada um e garantir um bom desempenho de todos. Esta pedagogia baseia-se principalmente no diagnóstico precoce das dificuldades, objetivos de aprendizagem específicos, avaliações formativas frequentes e feedbacks corretivos em tempo útil...ora isto implica uma profunda modificação nas práticas docentes habituais. É neste contexto que o ensino explícito pode fazer toda a diferença com os alunos que apresentem mais dificuldades de aprendizagem.

Adpatado de "Ensino explícito e desempenho dos alunos, Clermont Gauthier, Editora Vozes

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