quarta-feira, agosto 03, 2016

Sexo, felicidade e moralidade

Para Fernando Savater quando as pessoas falam de "imoralidade", na maior parte das vezes referem-se a algo que tem a ver com sexo. Acreditam mesmo que a moral se dedica a ajuizar o que as pessoas fazem com as suas partes sexuais. O disparate não podia ser maior. No sexo, em si, nada há de imoral...claro que podemos comportar-nos imoralmente com o sexo, como em tantas outras coisas na vida. Aquilo que dá prazer a dois não tem nada de mal. O que está mal é haver quem pense que o prazer tem alguma coisa de mal. Aquele que se envergonha da fruição do seu corpo é tão estúpido como o que se envergonha de ter aprendido a tabuada da multiplicação...
É paradoxal que sejam os que vêem algo de mau no sexo que dizem que ânimos excessivos "animalizam" o homem. A verdade é que são precisamente os animais que usam o sexo para procriar! Nos homens, para além da procriação, o sexo produz outros efeitos. Quanto mais se separa o sexo da procriação, menos animal e mais humano ele se torna. 
Então de onde vem a "imoralidade"? Bem, um dos mais velhos temores sociais do homem é o medo do prazer. Porque é que o prazer assusta? Na verdade, uma pessoa nunca se sente tão contente nem tão de acordo com a vida como quando tem prazer. Mas a existência humana foi em épocas remotas um jogo perigoso. O prazer distrai-nos mais do que o devido e isso pode ser-nos fatal. Daí os prazeres serem rodeados de tabus e restrições. 
Os "puritanos" consideram-se as pessoas mais morais do mundo! Mas o puritanismo é a atitude mais contrária à ética que se pode imaginar...O velho mestre francês Michel de Montaigne recomendava : " Temos de nos agarrar com unhas e dentes ao uso dos prazeres da vida, que os anos nos vão arrancando das mãos uns atrás dos outros". Mas cuidado, não devemos ter obsessão em encaixar à força no instante em que vivemos todos os prazeres. Devemos, antes, procurar em tudo o seu aspecto agradável aprendendo a tirar prazer daquilo que nos rodeia. Montaigne também clarifica que não devemos deixar que nenhum dos prazeres apague a possibilidade de todos os outros, caso contrário escraviza-nos! A diferença entre "uso" e "abuso" é precisamente essa: quando usas um prazer, enriqueces a tua vida que passa a agradar-te cada vez mais; sinal que estás a abusar é quando notas que o prazer te vai empobrecendo a vida e roubando tempo para outros prazeres.

Sem comentários: