Os estudos do Séc.
XX sobre tribos isoladas confirmaram que também eram curiosos quanto a
si próprios e contavam narrativas acerca da sua origem e do seu destino.
Os primeiros
humanos sentiriam afeição e atração pelos seus semelhantes e teriam
conhecido a mágoa que advém da quebra desses laços. Teriam igualmente
testemunhado momentos de alegria e de satisfação, êxito na caça, no
acasalamento, na guerra... Esta descoberta sistemática do drama da
existência humana só foi possível após o desenvolvimento pleno da
consciência humana - uma mente com um "eu" autobiográfico.
Foi essa descoberta
que terá estado na origem dos mitos para explicar a condição humana e
seus processos: elaboração de convenções e regras sociais, início da
moralidade, criação de narrativas religiosas a partir de mitos e
elaboração de leis e regras. A elaboração de regras morais e de leis e o
desenvolvimento de um sistema de justiça foi uma resposta à deteção de
comportamentos instintivos que fazem perigar os indivíduos de um grupo.
Neste contexto não
deve surpreender que as narrativas socioculturais fossem buscar a sua
autoridade aos seres míticos que se imaginava terem mais poder e
conhecimento do que os humanos. Eram seres cuja existência explicava
todo o tipo de problemas, facultavam o auxílio e podiam modificar o
futuro...basta lembrar a profusão de deuses do antigo Egito,
Mesapotâmia, Grécia, Roma e mesmo presentemente para se perceber esta
visão...
Adaptado de O livro da Consciência, António Damásio
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